Com a crescente demanda por serviços de transporte público no Brasil e o aumento dos custos operacionais, garantir a modicidade tarifária e a qualidade do serviço continua sendo um desafio para gestores e empresas do setor.
A crise econômica e as dificuldades financeiras das prefeituras e governos estaduais ampliam a necessidade de um modelo sustentável que concilie acessibilidade e qualidade para os passageiros, especialmente nas grandes cidades.
Seria possível adotar práticas internacionais de financiamento para o transporte público no país para oferecer preços baixos aos usuários e serviços de qualidade?
A modicidade tarifária e o impacto no transporte público
No Brasil, a definição do preço das passagens de transporte público não é apenas um cálculo técnico, mas também uma decisão política que leva em consideração o poder aquisitivo da população, especialmente das classes de baixa renda.
Um artigo de Jacob Barata Filho, diretor da Viação Util, lança luz sobre esses desafios do transporte público, abordando justamente a relação entre preço e qualidade dos serviços aqui no Brasil e em outros países, indagando se o que é barato pode ser bom. Jacob Barata Filho discute o conceito de modicidade das tarifas — ou seja, a ideia de que os preços devem ser baixos o suficiente para garantir acessibilidade, mas sem comprometer a qualidade do serviço.
Ao explorar a diferença entre tarifa (cálculo técnico) e preço (decisão política), ele destaca a importância da gestão do transporte público no país, marcada por um modelo financeiro em que o lucro não é o objetivo principal, mas a sustentabilidade do serviço. Barata Filho destaca que a modicidade das tarifas deve ser a prioridade para garantir que os serviços sejam acessíveis a todos, sem comprometer sua qualidade.
Contudo, o modelo atual, baseado na cobrança das tarifas diretamente dos usuários, enfrenta sérios desafios de viabilidade financeira.
O modelo brasileiro x experiência internacional
A solução para essa questão, segundo Barata Filho, pode ser encontrada em exemplos internacionais, como os sistemas de transporte público em Paris, Londres e Nova Iorque, onde o Estado subsidia os custos do transporte para garantir tarifas acessíveis sem sacrificar a qualidade.
Em contraste, no Brasil, a falta de subsídios adequados e a dependência de um modelo de financiamento baseado nas tarifas tornam o sistema vulnerável a crises econômicas, elevando as passagens e prejudicando o acesso ao transporte de qualidade.
Qualidade do serviço de transporte
Barata Filho também explora a importância de definir e garantir um padrão de qualidade para o transporte público. Quando o sistema é subsidiado pelo Estado, a qualidade tende a ser uma prioridade, uma vez que o objetivo é atender à sociedade de forma mais ampla.
Já quando a operação é delegada ao setor privado, como acontece em muitas cidades brasileiras, o operador se vê pressionado a equilibrar custos operacionais com a necessidade de oferecer serviços de qualidade para não perder passageiros. A questão, então, é como conciliar essa relação sem prejudicar a acessibilidade?
Qual a solução para o futuro do transporte público?
Jacob Barata Filho propõe que o Brasil aprenda com as melhores práticas internacionais, adotando uma estrutura de financiamento que permita aos serviços de transporte público atender não apenas à demanda por tarifas acessíveis, mas também à necessidade de inovação, eficiência e qualidade.
Além da modicidade, é preciso que o governo e os gestores do setor se concentrem em definir contratos que permitam um padrão de qualidade estável e sustentável, assegurando benefícios para a sociedade em sua totalidade.
A discussão sobre o preço das passagens e a qualidade do transporte público no Brasil é mais do que uma questão de tarifas, envolve a necessidade urgente de transformar o setor de transporte em um serviço mais acessível, que atenda às reais necessidades da população.
Para isso, é essencial que o governo e as empresas do setor se unam para encontrar soluções que priorizem tanto a modicidade tarifária quanto a excelência nos serviços oferecidos.